sábado, 1 de abril de 2017

SENHOR DAS MOSCAS, WILLIAM GOLDING

Antes de falar do livro em si, é necessário falar um pouco sobre o autor William Golding. Ele foi um oficial da marinha britânica e participou de alguns eventos como "o dia D", em que aliados invadiram a Normandia que era de ocupação alemã.

Felizmente há muito material gravado do próprio autor falando sobre esta obra, ele até explica porque foi um grupo de meninos e não de meninas ou de meninos e meninas (links abaixo). Ele lia livros de sua infância para os filhos- com algumas alterações às vezes- e um dos livros era "the coral island" do autor Robert Michael Ballantyne, que conta aventuras de um grupo de estudantes ingleses que transformaram a ilha numa "mini Inglaterra". Conversando com a esposa ele pensou em como seria escrever um livro sobre meninos numa ilha mostrando como eles realmente se comportariam.Somado a isso, há um depoimento do próprio autor falando: "Se quiser saber de onde vem a tragédia desse livro, só posso dizer que é da pior época da minha vida que foi após guerra quando descobrimos o que os nazistas haviam feito e fatos terríveis se revelavam, um após o outro. Então, meu mundo liberal ruiu. Assim é "O senhor das moscas".

Agora sim vamos ao livro... "Senhor das moscas" pode ser traduzido como "Belzebu" - que é um dos nomes do demônio. Por aí já esperamos que seja um livro não muito alegre. Meninos de 6-12 anos sofrem um acidente de avião e vão parar numa ilha deserta e são obrigados a se virarem até que o resgate apareça. No começo há uma tentativa de "ordem", Ralph escolhido como líder tendo Piggy do seu lado como conselheiro inteligente, Jack virando o líder dos caçadores (que são os meninos do coral ao qual Jack também fazia parte), os pequenos seguindo um e outro de acordo com o que lhes interessava.

Resumindo muito, Ralph quer manter a ordem e fazer a fogueira pra ser resgatado e Jack quer caçar pra manter o grupo alimentado (suprir necessidades imediatas usando violência). É difícil falar em razão quando as pessoas passam fome. Ralph e Jack ficam numa disputa acirrada que logo vai acabando quando Jack mata o primeiro porco. Não é só um ponto pra Jack porque ele conseguiu comida, mas um ponto também para a selvageria. As pessoas arrumam representações pra todos os personagens, como democracia, fascismo, ciência, etc... Eu gostaria de falar sobre como Golding pensava nas crianças.

Ele era professor, ele via nas crianças a maldade. Ele dizia que se não houvesse um adulto/responsável por perto elas não saberiam tomar as decisões certas. E isso fica bem claro no final. 

Depois da guerra o seu mundo realmente ruiu. Ele dizia que ninguém tinha ganho a guerra, mas sim que a tinha TERMINADO.

Golding escreveu o livro em apenas 6 semanas. Porém ele foi rejeitado mais de 20 vezes até alguém querer publicá-lo, o tema era chocante... tanto que só começou a ser estudado no começo dos anos 60... se tornando até leitura obrigatória em algumas escolas.

(spoilers começarão a partir daqui)

E é notória a falta de esperança do autor, no momento em que Simon finalmente descobre o que é aquele "monstro" que tanto ronda os pesadelos dos pequenos e quer compartilhar o "alívio" com todos, ele é morto. Mesmo Piggy que é o inteligente e racional acaba dando "desculpas esfarrapadas" pelo acontecido. Ninguém quer assumir a responsabilidade de algo tão pesado.

Mesmo Ralph que ser o "mocinho" do livro não é tão "inocente", na primeira oportunidade ele revela o primeiro e único segredo que o amigo lhe pede pra guardar, que seu apelido é Piggy.

O avião passa num momento em que Jack volta com o primeiro porco abatido, quando a primeira "barreira" da barbárie é quebrada. Por causa de um impulso (a caça, o instinto animal de conseguir comida) eles foram "penalizados", pois se tivesse ficado alguém pra manter o fogo aceso eles teriam sido resgatados bem antes de tudo ter acontecido.

Ouvi dizer que em "ritos de passagem", livro publicado em 1980, o autor retoma a metáfora da ilha, só que em um navio... mas isso fica pra outro dia...

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