terça-feira, 20 de agosto de 2019

A guerra dos mundos, H. G. Wells

Um relato em primeira pessoa nos é contado por um sobrevivente da invasão marciana aqui na Terra. Suas descrições são muito precisas a ponto de impressionar pela data em que foi escrita a obra (1897). Pra você que acha que não sabe nada sobre o livro, este é aquele que foi adaptado para o rádio por Orson Welles em 1938 e causou transtornos ao fazer com que a população local realmente pensasse se tratar de uma invasão alienígena! (A CBS calculou, na época, que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radioteatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefônicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo.)*

No começo do livro ele explica a situação de marte: "O resfriamento secular que haverá de tomar nosso planeta um dia já chegou a uma fase muito avançada, de fato, em nosso vizinho." E comenta sobre como nos imaginávamos seres "supremos" do universo. 

O inglês conta de forma até filosófica como foi a invasão, detalhando a chegada e observações que fez durante os piores dias de sua vida. Clarões foram vistos no céu e a cada 24 horas. Depois de certo período, cilindros de metal caíram sobre a Terra revelando seres que tinham armas que não davam chance de defesa para os humanos. 

A descrição dos alienígenas é bem detalhada e algumas partes de "encontro" são bem tensas. O autor soube muito bem combinar o suspense com o mistério dos invasores e sua descrição tem muito crédito haja visto que ele afirma ter pesquisado sobre o assunto até a última página... Ele também filosofa muito sobre a extinção dos humanos não só pelo personagem que nos conta a história mas pelos outros que ele acaba encontrando... E o reencontro de um deles depois de vários dias escondido é surpreendente.. Faz com que pensemos muito e acho que até daria outro livro!!!

Não há uma busca dramática do personagem pela esposa como no filme, a luta pela sobrevivência é maior do que o sentimentalismo... Quando há "respiro" ele lamenta a falta da esposa, mas são poucos momentos...

Os trechos que mais gostei são os que descrevem as atitudes dos alienígenas, não só a parte de destruição, mas a forma com que constroem suas máquinas, mostrando um avanço tecnológico não esperado.

Até a última parte não sabemos se os humanos criaram uma comunidade sobrevivente e resistente à presença marciana ou se de alguma forma os venceram e esses suspense só aumenta a vontade de continuar lendo...

Um ótimo livro de ficção científica... uma invasão marciana clássica com um final bem inesperado mas bem possível...

*fonte: https://www.dw.com/pt-br/1938-p%C3%A2nico-ap%C3%B3s-transmiss%C3%A3o-de-guerra-dos-mundos/a-956037

O CASAL QUE MORA AO LADO, Shari Lapena

Anne e Marco Conti têm uma filha de 6 meses e vão jantar na casa dos vizinhos: Cynthia e Graham, porém Cynthia pede para que Anne não leve sua filha. Seu marido Marco afirma que podem deixar a bebê em casa sozinha já que vão jantar nos vizinhos "de parede" e combinam de ficar com a babá eletrônica e de a cada 30 minutos voltar para casa para dar uma olhada nela. Tudo corre bem até a hora que retornam e a porta da frente está aberta e o berço vazio.

Há muita intriga na trama: Anne tem depressão pós-parto e já sofria depressão antes da gravidez, Cynthia foi amiga de Anne antes dela engravidar e mudou muito após o nascimento da criança, Marco tem uma empresa à beira da falência e os pais de Anne têm muito dinheiro e provavelmente muitos inimigos... 

O narrador é onisciente/onipresente, sabe tudo o que acontece e os pensamentos dos personagens. Achei corajoso da parte da autora escrever um thriller dessa forma pois fica difícil "criar um mistério" mas também deixa o livro com muitos elementos, talvez por isso eu tenha lido tantas críticas dizendo que o livro dá muitas "pistas" para o leitor e que acabou "enchendo linguiça". Mas não me desagradou tanto ter esses vários elementos.

Há uma virada interessante no meio do livro, mas nada muito surpreendente também, mas mesmo assim o deixa mais interessante. Se não houvesse essa história secundária talvez o livro fosse bem, mas bem chato mesmo...

Gostei da "sinceridade" da relação entre Anne e Cynthia com relação ao nascimento da filha. Claramente as vizinhas que eram tão amigas "perdem as afinidades" pois a prioridade de Anne agora é a maternidade e para Cynthia o oposto. Não que a maternidade tire a independência da mulher, mas é claro que mexe muito com o cotidiano em sociedade, digo isso por experiência própria.

No livro só torcemos para que a criança seja encontrada, pois é difícil se apegar a algum personagem, nenhum deles é confiável e nenhum deles tem carisma... O detetive que cuida do caso é um personagem interessante mas aparece pouco na trama, o foco fica nos parentes da bebê.

Achei interessante o sumiço da bebê e até as declarações para a imprensa. É legal também como a vida de cada um é contada para que se torne um suspeito. O que me incomoda é o título do livro com relação à história. Parece que a desconfiança deveria cair toda sobre o casal que mora ao lado... ou os vizinhos ou os próprios pais da criança, pra mim não se encaixa de forma significativa o livro, é a pior pista de todas na minha opinião.

Quanto ao final, não achei que foi "sem noção", achei que é condizente com a história da Anne, até gostei pra dar um pouco de ação pra tudo. E só enfatiza que não devemos nos apegar a nenhum personagem adulto... não é uma história irreal, aliás, ela é bem realista.

domingo, 11 de agosto de 2019

MANICÔMIO, PETER MCGRATH (com spoilers)


Peter é um psiquiatra que nos conta a "história mais triste que conheço"... É a história de Estela, esposa de outro médico e que acabou se apaixonando por um interno.

Estamos na Inglaterra, final dos anos 50, o psiquiatra Max Raphael foi trabalhar num hospital psiquiátrico no interior da Inglaterra e precisou se mudar com a esposa Estela e o filho Charlie para uma casa que fica ao lado do hospital.

Uma das medidas que Max toma no início de sua gestão é fazer os internos trabalharem no jardim da sua nova casa. Porém isso causa proximidade entre Edgar - um dos internos mais manipuladores do hospital e Estela. Ela é uma mulher muito bonita, se casou jovem com Max meio que por necessidade... E parece que esse casamento prematuro fez com que ela "parasse no tempo". Ela é imatura emocionalmente.

Estela se sente muito atraída fisicamente por Edgar e se entrega totalmente à paixão a ponto de quebrar várias regras do hospital para satisfazer seu amante a ponto dele conseguir não só fugir, mas fazê-la morar com ele.

Por um tempo a relação fora do hospital foi boa, eles bebiam, discutiam arte, saíam a noite, Estela conheceu vários outros artistas que faziam com que ela se sentisse "importante"... porém foi logo se desgastando a ponto de dela voltar para o marido... 

Eu, particularmente, no meu momento "mãe", fiquei com raiva dela por ser tão egoísta e abandonar o filho de tantas formas, raiva do próprio Peter porque ele se apaixona por ela e não enxerga o que está por vir, do marido por não ser presente com a família, do Edgar pela sua loucura! E do amigo dele (que aparece quando estão morando fora) por não se posicionar, não sabemos o que ele quer dessa relação. Será que ele é apaixonado pelo Edgar ou pela Estela ou pela relação doentia dos dois?

O desenvolvimento da relação amorosa deles dentro do hospital é interessante, na parte externa é meio maçante porque é meio clichê e "sujo"... mas o desfecho trágico completa perfeitamente a trama... 

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Contos japoneses e chineses sobrenaturais

Os contos chineses e japoneses de terror ou sobrenaturais são simples. São como narrativas orais, palavras simples e histórias curtas. São história que nos dão aquele "medinho", típico de quando ouvimos alguma história urbana.

Pra ilustrar o "clima" conto uma "lenda urbana" curtinha e que pra mim dá a mesma sensação de quando leio algum conto de terror oriental: Um casal está de carro numa noite chuvosa percorrendo uma estrada deserta até que avistam uma mulher com as roupas rasgadas pedindo socorro, ela só diz que o filho está no carro, mas eles não enxergam o carro, ela aponta e mostra um carro capotado na parte de baixo do barranco ao lado da rodovia, o casal corre em direção ao carro pois ouvem um choro de criança. Quando finalmente conseguem tirar o cinto do bebê e tirar do carro, percebem que a mesma moça que pediu ajuda na estrada está morta no banco do motorista com o cinto de segurança ainda atado.

É mais ou menos assim que são as hitórias desses dois livros que li. Claro que são situações em vilarejos, mosteiros... nos contos chineses são na sua maioria contos com viajantes que acabam econtrando figuras extraordinárias em seu caminho ou em lugares que vão passar a noite. Os japoneses têm mais relatos de maldições em vilarejos ou sentimentos de espíritos que já morreram... Mas os dois são muito bons! Recomendo a leitura pra alguém que queira conhecer rapidamente um pouco da cultura dos países... O medo também faz parte da cultura do povo...

Não tem como contar alguma história sem dar spoiler, mas há um conto em que a mulher fica "assombrando" a casa até que um monge consegue acalmar o espírito queimando uma carta que havia no tipo de criado mudo do quarto dela, eu imaginava que no final nós nem saberíamos do que se tratara a carta, apesar de que só sabemos que se tratava de uma carta de amor, porém ela foi queimada e só o monge soube seu conteúdo.

Nas histórias orientais é difícil haver um "final feliz" ou um "final fechado"... Algo que não costuma agradar muita gente...

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domingo, 4 de agosto de 2019

A FILHA DO REI DO PÂNTANO, Karen Dionne


A história é contada por uma mulher que foi fruto de um sequestro que durou anos... Sua mãe foi raptada na adolescência e dois anos depois ela nasceu, porém, ela não sabe disso até ter 13 anos de idade. 

Helena já é adulta, casada, com duas filhas quando conta que seu pai será solto e por isso ela precisa tomar alguma aitutde. A partir daí ela conta como foi sua infância e adolescência dentro de uma reserva florestal em que só vivia com pai e mãe. Até os 13 anos de idade ela não tinha tido nenhum contato com mais ninguém.

Percebemos as lembranças boas da infância de viver "ao ar livre", eles viviam numa barraca no meio de uma reserva florestal que não tinha água encanada nem energia elétrica. Eles cultivavam alguns vegetais, caçavam e pescavam, ela gostava dessa vida ainda mais porque admirava a independência do pai nesse meio. Ele era descendente de índios e tinha muita habilidade com a faca, o que foi ensinando gradualmente para a filha que, do seu jeito, gostava também.

Agressões físicas eram comuns na casa, tanto com a mãe como com a filha. Helena considerava a mãe uma "fraca", pois estava sempre triste e muito quieta. Não gostava quando o pai a batia mas também não era muito de defender a mãe.

Algo acontece nessa casa quando ela tem 13 anos que faz com que ela acabe descobrindo que a mãe foi raptada e finalmente o pai mostra a verdadeira face. Isso faz com que Helena queira ajudar a mãe. Não sem antes ficar bem confusa com relação à mãe querer abandonar o lar e o pai. Vamos lembrar que ela tem 13 anos, está na idade de muitos questionamentos. 

O pai finalmente é preso, mas ainda percebemos a ligação forte entre eles. É difícil pra ela lidar com esse sentimento conflitante, mas enquanto o pai está preso ela o tenta esquecer e esquece. Ela fala rapidamente como foi a volta delas para a civilização e da adaptação difícil... mas não é o foco do livro.

O que choca foi o "como". Ela se snete culpada pela prisão do pai e por mais alguma coisa e a autora soube bem como fazer suspense e como fazer a gente entender os conflitos na cabeça da personagem. É um livro que prende muito o leitor, tem suspense, drama... o livro é muito bom!!!

sábado, 3 de agosto de 2019

O peso do pássaro morto, Aline Bei

Terminei de ler agora e eu precisava compartilhar... não conseguiria esperar para gravar vídeo!!!

Dos 8 aos 52 anos acompanhamos a vida de uma mulher. E não é simples, ou é simples de maneira complexa. É muita perda na vida dela.

A forma como o livro foi escrito se mistura entre prosa, poesia, diário, poesia concreta... só isso já me encantou muito e aí juntamos a história dessa mulher... A mistura da forma com o conteúdo é muito perfeita, tem sua beleza poética mas é prosa... não consigo explicar.

Também não consigo falar desse livro sem dar alguns "spoilers", mas acredito que não faça diferença pois mesmo sabendo o conteúdo do livro, não tem como eu descrever a poesia que existe nele, não tem como eu reproduzir a forma só com descrições, você vai precisar ler.

Aos 8 a melhor amiga da personagem morre, aos 17 ela é estuprada e os pais meio que a expulsam de casa porque engravidou. Não, ela não contou que foi estuprada. Eu não sei se ela é medrosa demais ou se ela é inocente e infantil demais... Tudo é melancólico na vida dela. Talvez pela morte precoce da amiga.

Apesar dos anos que passam, conseguimos enxergar a menina a todo momento. Talvez por causa da escrita. A personagem não tem nome e isso também nos afasta dela, ela não consegue criar intimidade com ninguém, nem com o próprio filho... 

Tudo me "pegou" pessoalmente: A morte de uma criança, o distanciamento entre mãe e filho, o apego a um animal de estimação que sabemos que vai morrer antes de nós... E o nome do cão, Vento, faz todo o sentido...

Apesar dos assuntos complexos e às vezes não agradáveis, a vontade de ler é maior. O final é perfeito. Se encaixa com a personagem, com a forma como ela lidou a vida. 

Pela internet há várias entrevistas com a autora, nem dá pra imaginar que esse seja seu livro de estreia. Apesar de produzir muitos textos e contos, esse é o primeiro romance... E o melhor livro do ano (lido até agora por mim...).